31 de maio de 2011

Claros

Olhos assim tão claros não deviam ser deixados soltos. Perigoso para o trânsito. Não dá pra sentar e esperar o tempo passar quando tudo desvia os faróis. Ou era só meu olhar? E eu olhava até perder a ordem. Sempre foi esse meu jeito, como se engolisse pelos olhos. Porque o céu estava aberto e era errado, quase ilegal, você estar assim, com os olhos tão claros olhando pra rua e comentando. Do dia, das pessoas e das horas. E eu perdido pro lado de dentro, parado me perguntando ‘como eu chego mais perto?’ e sem saber, me cutucava a espera. Eu tinha a pressa estranha de chegar, onde quer que fosse. Mas já íamos embora, e eu tinha tantas perguntas batendo, piscando. Lâmpadas prestes a queimar e eu pensando na suas, apagadas em algum quarto. De onde você veio? Eu continuava com a vontade estranha de pedir que me contasse a sua história. Mas era só isso. O tempo passando, e meu medo de ir embora. O tempo todo, tudo mudando, como os faróis passando pela avenida e as pessoas pelos canteiros. Era de noite. Olhos assim tão claros não deviam ser deixados soltos. Foi difícil dormir.




Henrique Rochelle

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