20 de janeiro de 2012

As coisas que eu não sei jogar fora

E de repente veio de novo a vontade de chorar. Sem sentido, sem motivo. Mas olhando pra cama, parecia que eu tinha guardado o coração numa caixa, junto com todas as coisinhas quebradas da prateleira e as coisas que eu só te contava. Eu sabia seu nome, eu conhecia sua boca, você era de verdade, eu conhecia seu abraço, eu sabia como era o seu sorriso, eu sabia onde você estava, e não era aqui. E de repente veio de novo a vontade. Eu tinha um lado um pouco mais frio, um pouco mais sozinho, faltava um pouco mais de companhia e eu queria que fosse você. Reclamava dos sons do final do dia e da chuva. Da falta de violinos pela rua. Aquela sensação estranha de que a gente precisa dizer..., mas já disse tudo. Aquela coisa sem sentido de ficar sozinho e te ouvindo em silêncio, como se o seu silêncio me deixasse mais acompanhado. Pensei em gravar minha voz. Gravar meu rosto. Escrever nossos nomes numa árvore. Mas eu não tinha idade, eu não tinha coragem, e eu já tinha feito quase tudo. Fiquei procurando o que era novo. E de repente veio de novo a vontade. Não faltava. As coisas iam se deitando em cima de mim, como os nove cobertores do inverno retrasado. E eu já não sabia em quem eu tinha pensado. Eu relia meus poemas e não sabia pra quem eram. Eu lembrava as minhas noites e não sabia de quem foram. Eu não sabia onde eu estava e de repente eu nem lembrava meu nome. Pela primeira vez as coisas davam errado. Eu fiquei sem dormir. E eu quis te dizer que te quero. Morrendo de medo. Da pressa. De, sei la... reparar que eu envelheci, perdi a graça, perdi a mágica e já não era tão doce. Eu não ganho mais torrões de açúcar. Eu não leio mais. E todas as histórias que eu quero não estão na minha estante. Eu queria te olhar nos olhos e te perguntar o que aconteceu comigo. Mas você acabou de me encontrar. Assim. Perdido no meio de um caminho que eu já não sabia pra onde ia. E o tempo todo eu queria te colocar em algum lugar na minha frente. E de repente veio de novo a vontade de chorar. As minhas noites ficaram repetitivas. Os meus textos continuaram repetitivos. E eu ficava contando o tempo pra saber quando não seria demais. Quando eu poderia te chamar de novo. Eu me agarrava, como se fosse certeza. Como se fosse a minha história. Como se eu estivesse prestes a alguma coisa grande. Impactante. E talvez não repetitiva. Mas de repente veio de novo a vontade de chorar.



Henrique Rochelle