2 de abril de 2012

Céu da Boca

Saudades
do céu da boca
e das coisas
que eu não dizia
pra não repetir
e você sabia
que essas horas todas acordado
essas camas todas deitado
eram só o tempo passando
e contando os dias
só as pessoas dançando
e eu esperando a hora
de voltar pra perto
pra te dizer que eu tenho saudades
do céu da boca
e digo menos
e você diz menos
e o dia passa inteiro
e eu te espero escrever
pra me dizer que eu já sei
mas que sente saudades
do céu da boca
assim um pouco mais perto
demais
que a gente não tinha
mas eu não contava
e todo mundo me olhava
como se a cada vez que eu deito
eu te tivesse do lado
embaixo
e em cima
de mim
contornando
por fora
e por dentro
no céu da boca
guardado pra mais tarde
um gosto que não vai embora
e que eu queria assim
na ponta da língua
quando eu devia estar dormindo
e preferia ficar acordado
com você pendurado
debruçado
caindo
do céu da boca
pra garganta
mordendo os dedos
e investigando a hora
pra colocar pra dentro
um pouco da vontade
me despertando
me tirando o sono
me chamando
pra eu saber que você não foi
não vai
e continua aqui
perdido na minha noite
entre as coisas que eu
não dizia
pra não
repetir
e você sabia
o tempo todo
e eu também
que eram saudades
do céu
da sua boca.






Henrique Rochelle