28 de outubro de 2010

Quatro Mãos

Eu tinha uma flor pra te dar
mas ela secou esperando.
Tem coisas que o tempo machuca
e essa noite era pra ter você.



Henrique Rochelle

26 de outubro de 2010

Céu Claro Como se Fosse Cedo e Você Viesse

Eu fiquei ali. Morrendo de medo, deitado e da cama olhando o céu de noite, com aquela claridade que faz parecer que tem luz em todo lugar. Sem chance de conseguir dormir. Abrindo e fechando os olhos e falando com você, com você, com você, e sempre prestes a chorar. Não aceitei sua resposta e morrendo de vontade de gritar pra você mudar de idéia, eu arrumei uma mala toda e trouxe pra cá. Como se a qualquer hora você fosse me dizer que não vive mais sem mim. Mas você não dizia e você não diria. Eu não li nas estrelas, porque a noite estava nublada. Nublada e com luz. Luz demais, que me deixava acordado e te chamando. Onde foi parar o frio? Onde foi parar meu sono? Eu acordo daqui a pouco e sem você. Sem você pra me dar bom dia do outro lado da cama. Eu achava que não ia dormir por causa da chuva. Que não ia dormir por causa do tempo. E eu só não dormia por sua causa. O braço caído pra fora da cama e segurando a alça da mala. Como se eu estivesse prestes a te encontrar e não estava. Como se amanhã eu acordasse pra ser seu pra sempre. Amanhã chegava e eu esperava a madrugada passar, pra levantar na hora e fazer alguma coisa certa, que eu não conseguia te dizer quanto queria. Eu não podia dormir, morrendo de medo de que você não sentisse saudades. Saudade é vontade de estar perto e de tão longe você não me sentia. Eu não podia dormir porque talvez você estivesse dormindo. Acorda. Passa a noite toda em claro e do meu lado. Agora agora agora agora. Muda de idéia! Que eu não posso mais esperar. Eu não posso respirar. Meu nariz tranca e eu não posso dormir. O céu, as nuvens, a noite passando e eu não fecho os olhos, porque não tem você em lugar nenhum. O dia é enorme. E eu conto todas as horas. Sem parar, sem parar. Você não vem. Eu fico aqui morrendo de medo. Você não vem. Não vem. Então eu deito na cama e não consigo dormir. Preso entre o grito e o choro. Preso entre esperar e você indo embora. Cada dia que você não vem eu fico mais sozinho. Cada noite que você não vem eu fico mais perdido. Muda de idéia... Deitado ao contrário, no pé da cama, sem conseguir dormir. Olhando a claridade estranha das nuvens passando como se fossem relógio marcando o tempo que a gente não tem. Você não vem... e eu nunca mais vou poder dormir sem olhar o céu.



Henrique Rochelle

24 de outubro de 2010

Partir

Porque você não parava de partir
eu não sabia onde te esperar
se eu ficava pelo meio do quarto
pra ver se você vem
ou se você corre pra me encontrar
sozinho no caminho sem você
que me deixava sempre e cada vez mais
e eu nunca sabia se voltava
eu nunca sabia se seria meu
então eu rasgava as horas e os dias
como se o tempo fosse papel na minha mesa
e eu levava pra cama dois ou três pedidos
e toda a coleção dos seus nãos
que me deixava sem jeito de querer
e eu continua querendo
sem nem entender como
porque você não parava de partir
e eu ficava pra trás
sem nunca chegar em lugar nenhum
porque não tinha você pra me encontrar
porque você não parava de partir
e eu ficava cantando pra você
que não me ouvia e não me abraçava
e sem entender a distância que você me colocava
eu deitava quieto
de coração partido e sonhando com uma mão
que eu nem sabia se era a sua
porque eu não parava de esperar
e você não parava de partir.



Henrique Rochelle