26 de agosto de 2010

em outras caixas

Eu peguei o que eu tinha e guardei em outras caixas. Quantas vezes você dá um laço no mesmo coração e ainda pode reaproveitar como presente? Aniversários passados de festas vazias. Coroa de flores pra quem já se foi. E eu era assim. Laços desfeitos em gaveteiros pretos do tamanho do quarto todo. Era que eu tinha que ocupar o espaço entre mim e uma mão pra abrir e buscar dentro. Mas, não conta um segredo?, não tinha nada para achar. Minhas fitas amassadas é que ocupavam mais espaço, me deixavam mais cheio de mim. Então eu escolhia caixas novas. E sempre sorria e entregava. Mãos juntas pra dar um coração batendo. Toma. É meu, mas é pra você. E pensando que presente a gente não devolve, eu continuava assim, um espacinho a menos esperando um sorriso a mais pra me fazer mais inteiro. Mas a gente bate em ritmos sem contagem, então eu não sabia como esperar. De volta. Sempre voltava. O laço, a fita, a caixa e o coração. Batendo menos. Batendo fraco. Embrulhado em papel pardo, com um selo que dizia ‘não me escreva, não me procure’. E eu pegava de volta e guardava o resto em alguma gaveta. Caixa nova. Fita nova. Um dia, alguém novo pra desembrulhar esse meu laço, e perder em outras caixas o que eu faço de melhor: laços de presente.

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